Etapa 1 –VILA VELHA de RODÃO- CASTELO de VIDE 46 km Foi nesta localidade encravada entre montes e vales
e bordejada pelo rio Tejo que começou esta minha travessia. Depois do pequeno almoço tomado num café arranquei em direcção
à ponte que me permitia transpor o rio para a sua margem esquerda e seguir em direcção à fronteira. Ao sair da estrada
fui contornando o rio pela sua margem num serpentear constante através de um estradão abundante em seixos e onde a vista era
magnífica. Em Salavessa, pequena aldeia, procurei a fonte e encontrei-a sem pinga de água. Rodava-se a torneira e...nada.
O café onde poderia abastecer estava fechado. Como ainda havia água suficiente no Camelbak e não me preocupei, certamente
na próxima localidade haveria água A seguir a Salavessa foram alguns quilómetros pelo alcatrão, inicialmente a subir mas
depois, claro, pagando a factura e subindo praticamente até Pé da Serra. Aí, de novo constatei que da fonte local não vertia
qualquer líquido. Por sorte, uma anciã observou a minha ânsia e ofereceu-se para me encher o bidão com água fresquinha
do frigorífico. “-então vens de onde? de Montalvão ?”.perguntou ela, disse-lhe que vinha de Vila
Velha de Rodão e que ia para Castelo de Vide. Fez uma expressão que me pareceu denotar não saber onde era Castelo de Vide
ou acreditar na dimensão da minha estirada ciclística. Reduzi então o universo geográfico e disse-lhe que vinha de Salavessa
e ia para Póvoa e Meadas. “ ah, Ainda falta um bocadinho”.- disse-me então já situada Até Castelo de Vide
foi pedalar por entre muros e muretes rodeado por calhaus e pedras. A calçada romana que sobe para castelo de Vide é bonita
de se fazer mas a anormalidade deste país mais uma vez se faz sentir pois a mesma foi ALCATROADA já perto do topo por
forma a que os habitantes de umas poucas casas recentes pudessem ter um caminho alcatroado. Só mesmo neste país.
Ainda vivemos na alarvidade. Estava terminada a 1.ª etapa sem grandes dificuldade e por volta das 17 h já
andava eu e minha «apoiante» a visitar Castelo de Vide. Nesse dia, dormimos na Albergaria El rei D.Manuel em Marvão. Tratando-se
de uma noite de 2.ª para 3.ª feira, o silêncio era quase total e Marvão estava quase só para nós. Reconfirmei que;
Marvão é a mais bela vila de Portugal onde cada canto é um encanto.
Etapa 2- CASTELO de VIDE-CAMPO MAIOR 86 km
Por volta das 9 h a minha companheira deixou-me em Castelo de Vide para que eu iniciasse a etapa. De Castelo de Vide
até Marvão seriam 12 kms com a Serra da Urra pelo meio. A ascensão a esta serra foi feita quase sempre a pé pois o caminho
estava intransitável devido aos restos do corte de eucaliptos que foram deixados por ali,. Depois queixam-se que o país arde.
Mais alarvidade. A única parte divertida destes quilómetros foi mesmo a descida da serra por um trilho entre
pinheiros e fetos e com a roda traseira a derrapar. A subida para Marvão apesar de longa não foi muito penosa, é feita por
alcatrão e já na parte final por uma antiga calçada que acaba nuns degraus já à porta da muralha da vila. Cheguei lá com
um furo que me deu trabalho a solucionar. Sai-se de Marvão por uma trepidante calçada que já conhecia pois já a
havia subido e descido em outras várias ocasiões que para ali fui pedalar. O resto da etapa é engraçada mas demasiado
cansativa para se tirar proveito da paisagem, ou então eu estava naqueles dias em que não tinha vontade de andar de bicicleta
e em que tudo nos parece feio. Acho também que o tempo que perdi a remendar o furo me cortou o ritmo. Grande parte da
paisagem encontra-se carbonizada pelos fogos o que a desfeia bastante. A seguir a Esperança começam as planícies
alentejanas sem fim à vista e ainda a alguns quilómetros de Campo Maior já se sentia no ar o cheiro a torrefacção de café.
No início gosta-se do cheiro depois enjoa-se :-& Nessa noite ficámos no Hotel Santa Beatriz de Campo Maior e demos
um «saltinho» a Badajoz.
Rio Tejo |
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Vila Velha de Rodão em fundo |
Castelo de Vide |

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calçada romana |
Salavessa |
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Placas de direcção jundo ao açude |
Bike e Tejo |
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estradão acompanhando o rio Tejo |
Moinho de água |
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um antigo moinho de água sem água |
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Etapa 3 CAMPO MAIOR-VARCHE (ELVAS) 35 km
Era uma etapa com pouca quilometragem e ainda
menos dificuldade. Mesmo assim decidi sair cedo de Campo Maior. Depois de uma volta pela vila e ao redor do castelo,
segui sempre por asfalto até à Barragem do Caia.. Aqui gostei de ver, pela primeira vez água em abundância pelo Alentejo seco...
Pouco depois de cruzar a linha férrea em Caseta de Safardel encontrei um tanque de água
no meio de quase nada e não levei muito tempo a decidir-me a entrar nele. Começava a fazer calor; e soube-me como me senti;
pato. Até Varche foi sempre a pedalar rápido pela planura, entre olivais, montado e pelo meio dos abundantes excrementos
de bovinos. O ritmo era apenas intervalado pelo abrir e fechar de algumas das cancelas e portões. A certa altura depois
de abrir uma cancela deparei com um placard com um anúncio original, “Passagem sujeita a demora devido aos pivots de
rega”.
O enorme afluxo de trânsito por aquela zona por certo agradece a informação. Cheguei
a Varche e à estalagem “Exaldai” a tempo de almoçar, dormir a sesta, dar um mergulho na piscina e depois dar um
saltinho a visitar Elvas onde jantámos.
Etapa 4- VARCHE-MONSARAZ 95 km Esta sim, acabou por ser a etapa rainha desta travessia mas
também a mais «puxada» devido ao alargamento do Guadiana e dos seus braços de rio. Levantei-me bem cedo, tomei o pequeno
almoço e lancei-me ao percurso. Um largo estradão e algum alcatrão deixou-me junto à capela da Senhora da Ajuda e à antiga
e arruinada ponte de Olivenza. Aqui desci até ao nível do Guadiana e fui pedalando pelo sobe e desce por entre bovinos
desconfiados, ovinos e caprinos assustados e fugindo de caninos desaçaimados, até que vislumbrei o castelo de Juromenha lá
no alto. Só que para subir até ele e à aldeia adstrita tive de andar a inventar trilhos porque o original estava submerso
pelo Guadiana. Visitei o castelo que se encontra em enorme estado de abandono mas que ainda conserva a sua beleza e magnificência.
Um local realmente bonito Juromenha. Em conversa com a proprietária do café da aldeia, onde abasteci de água, foi-me
dito da intenção de um empresário de recuperar a fortaleza para turismo de habitação. Espero é que a «burrocracia» deste país
consiga isso em tempo útil. Desci de Juromenha e, mais uma vez, junto ao rio tive de contornar por várias vezes o alargamento
do rio e acabei mesmo por ter de atravessar com água pela cintura por forma a poupar alguns quilómetros. Como o meu track
de GPS, era de 2003, a ribeira de Lucefecit que por esses dias devia ser apenas mesmo um ribeira, devido ao fecho das comportas
do Alqueva transformou-se numa Albufeira. Esta aventura de contornar o Guadiana implicou que no final da etapa a quilometragem
subisse em mais 15 quilómetros que o anunciado. Depois dos Montes Juntos já se acentuava o «empeno» desta etapa e foi já a «queimar óleo» que arribei à localidade de Telheiro onde me esperava o descanso na piscina da “Casa
Saramago de Monsaraz”, local de pernoita.
Caseta de Safardel |
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tanque de rega |
Barragem do Caia |
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o Caia em fundo |
Juromenha |
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banco com vista sobre o Guadiana |
Juromenha-Muralha do castelo |
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Olhando o Guadiana |
Rio Guadiana |
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Foz dos Pardais |
Senhora da Ajuda |
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Antiga ponte para Olivença |
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Etapa 5 MONSARAZ-PIAS (SERPA) 78 km Esta etapa começou com a subida ao castelo de Monsaraz onde tirei uma fotos
para a posteridade e algumas num «urban» pelas escadas da aldeia muralhada.
Depois foi muito alcatrão até à ponte que passa pelo Guadiana. Foi a etapa da planura e algo monótona,
mas feita a um ritmo elevado e sem interrupções pois pouco havia que merecesse a atenção. Nessa noite ficámos na casa
de um casal amigo que trocou há uns anos Lisboa pela quietude de Pias.
Etapa 6 - PIAS-MÉRTOLA 83 km Esta foi
talvez a etapa que mais gozo me deu fazer. O dia estava excelente para se pedalar; céu nublado, uma brisa ligeira que
não pertrubava a progressão e não se sentia calor algum. Saí de Pias acompanhando uma antiga linha férrea desactivada
num constante sobe e desce por estradões pedregosos onde invariavelmente com a ajuda da gravidade, a descida anterior nos
alcandorava à transposição da subida seguinte.
Desci então junto ao Guadiana onde a beleza e a calma junto a um antigo moinho de água era quase indiscritível.
Poucos quilómetros depois a paisagem mudava radicalmente e começava a serra de Serpa e a sua transposição. Por aqui senti
a sensação de estar sozinho no mundo. A serra de Serpa, ou as serras da Serra de Serpa, foi algo único de se fazer, Invariavelmente
subia para pedalar pela cumeada durante poucos quilómetros para logo descer novamente. Foi assim durante quase 40 quilómetros,
onde no sentido dos 4 pontos cardeais não se vislumbrava aldeia ou vivalma. Por aqui e já na parte «civilizada», encontrei
um casal de ciclistas belgas que viajava em autonomia e se dirigia para visitar o Pulo do Lobo. Falámos um pouco das nossas
aventuras e seguimos em caminhos opostos. O primeiro contacto com a civilização foi na solitária aldeia de Corte de Sines
onde ao entrar no café local silenciei as pessoas tal deveria ser a imagem que apresentava de alguém saído do deserto, tisnado
pelo sol e sujo do pó e sedento de líquido. Mértola era já a seguir e fui terminar esta minha travessia, com um mergulho
na praia fluvial das Minas de São Domingos.
Monsaraz |
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Descida de escadas |
Monsaraz |
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as ruas da aldeia |
Monsaraz |
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estacionamento de veículos de duas rodas |
Monsaraz |
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calçada medieval com Alqueva em fundo |
Pias |

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no sobe e desce |
Rio Guadiana |
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represa de moinho de água |
Pias |
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A linha férrea desactivada |
Serra de Serpa ou... |
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as serras da Serra de Serpa |
Minas São Domingos |
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praia fluvial |
Marvão-entrada da vila |
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A «apoiante» e a viatura de apoio |
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